Tua criação é perfeita.
Todos os dias podemos contemplar o milagre da vida se renovando. Tudo acontece de novo, e tudo é absolutamente novo.
Cada ser que habita o universo surge com suas características próprias. Não há, no mundo duas criaturas idênticas. Nem os gêmeos são idênticos. E, quando mais se desenvolvem e convivem com outras pessoas, mas ganhando um jeito próprio de ser e existir.
Tua criação é perfeita.
E, nessa perfeita.
E, nessa perfeição, convivemos com aqueles que têm diferenças. São pessoas que ouvem menos ou nada ouvem, que enxergam pouco ou nem enxergam, que não falam. Falam de outras maneiras. Que nascem ou desenvolvem algum tipo de limitação que atinge alguns de seus órgãos. Isso não os faz menores nem menos belos. São diferentes. Diferentes são todos aqueles que se aventuram nessa jornada da existência humana.
Alguns escolhem chamá-los pessoas com necessidades especiais. E eles têm, sim, necessidades especiais. Temos, todos, necessidades especiais que precisam ser supridas de alguma maneira. Somos carentes, todos nós. Carecemos de atenção, de ternura, de afeto. Carecemos de outros seres humanos que enxerguem em nós possibilidades. Pessoas que, nos vendo confundidos com patinhos feios, convidem-nos a mirar nossa imagem no lago e perceber que somos cisnes. Não somos feios. Nem esquisitos. Somos diferentes do grupo que não soube perceber nossa beleza. Somos belos todos. Cada um a seu modo. Porém, belos.
Não carecem de pena, aqueles que são limitados por algum motivo. Não carecem de sentimentos mesquinhos. Carecem de dignidade, de aceitação, de respeito, de espaço para que se sintam úteis. De espaço para que pudessem estudar trabalhar e viver a intensidade da vida. Crianças com Síndrome de Down, como são carinhosas, autênticas. Quem as conhece e as ama sabe quanto povoam as famílias com belíssimas lições de amor.
E abraçam tanto! E cantam. E dançam. E riem. Parece não se deixar contaminar com disputas mesquinhas que separam as pessoas e ferem os sentimentos. Quantas dessas crianças, entretanto são rejeitadas. Não quiseram os pais entender que também eram especiais por poder conviver com essas jóias. E o triste abandono.
Os alunos que freqüentam as escolas. As crianças que se alvoroçam diante de cada novo aprendizado não são preconceituosas. Com certeza, saberão conviver com o diferente, e isso fará com que se desenvolvam de forma solidária. Como é bonito perceber o intuito de perseverança e solidariedade dos colegas que se dispõem a empurrar a cadeira de todas. A ajudar a ser a luz daqueles que, cheios de luz, não conseguem conviver com limitações que vão diminuindo à medida que o tempo se torna um grande aliado do aprendizado para todos. Para todos, porque todos são capazes de aprender.
Tua criação é perfeita.
E, nessa perfeição, percebemos as diferenças, convivendo sem barreiras. As que existem são simples de serem transpostas. As mais difíceis são aquelas que teimam em habitar as almas dos que se sentem superiores. Triste sentimento que não é sentimento, mas ausência dele. Triste discurso o dos pais ou das mães que, ignorantes de amor, ensinam os filhos a tomares cuidado com tudo o que for diferente. Diferente por ter outra cor ou cabelo, por nascer em outro Estado ou País, por comungar de outra religião ou por ter menos dinheiro no banco. Esses pais e mães são os verdadeiros cegos e surdos de espírito. Têm todos os sentidos e, por sua vez, o que sentem não faz o menor sentido.
Tua criação é perfeita.
E é nessa harmonia que faço esta oração. Que ninguém se sinta diminuído, ou excluído, ou marginalizado. Que ninguém se sinta sozinho por falta de amor. Que ninguém se dê o direito de magoar. E que ninguém seja magoado.
Tua criação é perfeita.
E é nessa perfeição que agradeço Senhor, o dom da sensibilidade de perceber que é muito bom viver no mundo dos diferentes. Isso nos faz mais humanos, sensíveis e felizes a cada instante de nossas vidas.
Amém!